Os “danos” que provocaria a Timor-Leste um veto de Portugal à adesão da Guiné Equatorial à CPLP é uma das justificações apresentadas pelo Presidente da República portuguesa, Cavaco Silva, para o voto favorável português.
N o prefácio do “Roteiros IX”, publicação que reúne as suas principais intervenções do último ano, Cavaco Silva retoma o tema da adesão da Guiné Equatorial, explicando seis meses depois com mais detalhes as razões que levaram Portugal a não ter vetado o pedido na X Cimeira da CPLP, que decorreu em Julho em Díli.
Lembrando a “forte hostilidade” que o assunto suscitava em Portugal, com muitos a reclamarem que Portugal vetasse a adesão, Cavaco Silva refere que “Portugal apresentou-se em Díli, como se impõe em política externa, com uma posição concertada entre o Presidente da República e o Governo”.
“Sendo a adesão fortemente apoiada pelos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, pertencentes ao mesmo espaço regional que a Guiné Equatorial, a que se juntava o Brasil e Timor-Leste, um veto de Portugal poderia, no limite, pôr em causa a própria sobrevivência da CPLP”, sublinha, considerando que se Portugal se isolasse face à vontade conjugada de todos os outros Estados-membros, “numa comunidade em que o multilateralismo deve prevalecer sobre o unilateralismo, Portugal veria ainda a sua posição dificultada pelo facto de ser o antigo poder colonial europeu”.
Por outro lado, continua, Portugal não podia deixar de ter presente que a cimeira de Díli marcava o início da presidência timorense da CPLP, a primeira vez que Timor-Leste era chamado a desempenhar uma tarefa de tal dimensão internacional.
“Tendo existido um grande empenho das autoridades timorenses na adesão da Guiné Equatorial, um veto português significaria o fracasso da cimeira, com elevados danos reputacionais para Timor-Leste”, frisa, recordando que a cimeira era também vista como um teste à capacidade de Timor-Leste para satisfazer as exigências da participação na ASEAN, a que era candidato.
Por isso, sustenta Cavaco Silva, “o insucesso da cimeira seria um golpe nos esforços de Timor-Leste para reforçar a sua credibilidade internacional”.
“Neste quadro, uma questão não podia deixar de ser colocada: como reagiria Timor-Leste em relação a Portugal, encarado como o responsável pelo fracasso da Cimeira? Qual o efeito que isso teria sobre a difusão da língua portuguesa em Timor?”, questiona o Presidente da República, manifestando-se surpreendido com o que facto de que muitos dos que defenderam activamente o veto de Portugal à adesão da Guiné Equatorial tivessem “ignorado os danos para Timor-Leste de uma tal decisão”.
“A estratégia de Portugal para a Cimeira de Díli não podia ser a de isolamento em relação a todos os outros Estados-membros. A contestação organizada por alguns sectores da sociedade portuguesa contra a adesão da Guiné-Equatorial devia ser relativizada, porque contrária aos superiores interesses do País e pelos danos que provocaria a Timor-Leste, país a que nos ligam profundos laços de amizade e que temos o dever de apoiar nos seus esforços de promoção do desenvolvimento económico e social”, acrescenta.
No prefácio dos “Roteiros IX”, divulgado esta noite no ‘site’ da Presidência da República, o chefe de Estado recorda ainda outras deslocações ao estrangeiro, como as visitas oficiais à China, Coreia do Sul e Emirados Árabes Unidos e a sua participação na Cimeira Ibero-americana, no México.